Já ganhou o mundo (sem
sair de casa); Se diverte (enquanto trabalha duro); E fatura milhões
(investindo pouco)
Quando chegou
apressado para a sessão de fotos de capa desta reportagem, Bruno, laptop e
celular em punho, não tinha a menor ideia de quem encontraria pela frente. Mas
não parecia preocupado. Logo depois chegaram as duas Patrícias, Gustavo, e por
fim, Paulo Vinicius. Breno
avisou que estava
ocupadíssimo e não poderia participar. Perdeu a cena: os cinco jovens, todos na
faixa dos 20 anos, nunca tinham se visto na vida, mas, num clique, estavam
conectados. Discutiram ideias sobre as suas empresas, abriram o computador para
mostrar os planos de negócios e até chegaram a trocar figurinha do que poderiam
fazer juntos no futuro. Depois de quatro horas trancados em um estúdio de
fotografia em São Paulo, todos estavam tão descontraídos que dançavam para a
câmera.
Eis a novíssima
safra de empreendedores. Sem hesitações ou medos e com uma boa
dose de autoconfiança e ousadia, esses rapazes e moças estão reinventando o
jeito de fazer negócios. Representantes da chamada geração Y ou geração milênio, como foram batizados os nascidos dos anos 80
para cá, sua forma de pensar e agir pode atordoar - mas sobretudo surpreender -
quem veio ao mundo antes do controle remoto. Impacientes e criativos, imediatistas
e versáteis, eles começam a ganhar milhões com os seus projetos. Como? Você saberá
a seguir. Pequenas Empresas & Grandes Negócios levantou as
características marcantes do grupo e revela, em primeira mão, o novo rosto do
sucesso.
Domínio da tecnologia
Para a geração
milênio, a afinidade com a internet é instintiva, seja no lazer ou no trabalho.
"Eles conseguem facilmente na web informações sobre fornecedores, clientes
e tendências de consumo", diz Andrew Zacharakis, professor de
empreendedorismo do Babson College, nos Estados Unidos. A trajetória de Breno
Masi, 26, lhe dá razão. Junto com um amigo que conheceu na rede e a ajuda de
comunidades virtuais, ele foi um dos primeiros do mundo a destravar o iPhone. Divulgou a proeza no YouTube e transformou o
desbloqueio em um rentável negócio. Também graças à rede, o paulistano Paulo
Vinicius de Souza, 23, pôde expandir para o Rio de Janeiro as operações da
Tchu-Tchuá, sua empresa de recreação e eventos, com site próprio, comandada de
São Paulo. Sinal de que, nas mãos desses novíssimos empresários, a tecnologia
já se tornou uma poderosa - e barata - ferramenta na busca de clientes.
Mais colaboração e menos hierarquia
Se até há pouco
tempo os empreendedores eram vistos como seres solitários, a nova geração se
diferencia pelo alto poder gregário. "Por ter crescido no mundo online, os
jovens são mais abertos a cooperar com os outros, a dividir e discutir ideias",
diz Reinier Evers, fundador da Trendwatching, empresa holandesa especializada
na análise de tendências. Um estudo com quase 6 mil jovens de 12 países -
Brasil incluído -, coordenado pelo americano Don Tapscott, autor do best-seller
Wikinomics e do recém-lançado Grown up Digital (ainda sem versão em português)
apontou outra característica desses jovens: forte rejeição à hierarquia das empresas.
Tome-se como exemplo o caso da FingerTips, a desenvolvedora de aplicativos para
iPhone de Breno. "Não controlamos horários e nossos programadores podem
trabalhar em casa", conta. "Cada um tem liberdade para encontrar a
melhor forma de realizar suas tarefas", complementa ele, totalmente
sintonizado com duas outras tendências apontadas pelo levantamento de Tapscott:
a valorização da autonomia e a qualidade de vida. Inovação é ponto forte dos
empreendedores Y. "Eles têm mais facilidade em quebrar paradigmas para
conceber novos produtos, serviços ou processos", avalia Raphael Zaremba, professor
de empreendedorismo da PUC-RJ. O consultor Fernando Dolabela, que acaba de lançar
Empreendedor Aprendiz, pensa parecido. "Eles não têm uma visão amarrada.
São capazes de se perguntar: 'Por que isso tem que ser assim?'"
Imediatismo
Eles buscam
velocidade. E não só nos videogames. Acostumados a conseguir o que desejam com
um clique no mouse, fazem várias coisas ao mesmo tempo e não têm o hábito de
esperar. Em recente pesquisa conduzida pela MTV, 20% dos jovens brasileiros
admitiram ser impacientes. Gustavo Ely Chehara, da rede de docerias Docella, é
o típico exemplo. "Nunca quero as coisas para hoje, sempre para
ontem", diz. Tamanha pressa pode dar agilidade aos negócios - fator
essencial para o sucesso num mundo que gira cada vez mais rápido. Mas, em excesso,
o imediatismo também atrapalha. "Reflexão e estratégia pedem tempo",
alerta Mathieu Carenzo, diretor administrativo do Centro para
Empreendededorismo da IESE Business School, da Espanha. "Eles têm
dificuldade em entender que é preciso esperar para obter bons resultados",
afirma David Kallás, professor do Insper (novo nome do Ibmec São Paulo).
Atuação global e em nichos específicos
A mais nova
empreitada do estudante Bruno de Araujo, 21, ainda não saiu do papel. Ainda assim,
ele planeja, logo que abrir a empresa, despachar guitarras para o mundo todo.
"Para mim, tanto faz se o cliente está na esquina, nos Estados Unidos ou
na China", diz Bruno. Para empreendedores como ele, exportação não é
privilégio de gente grande. "Graças às novas tecnologias, os jovens fazem
negócios globais por definição", afirma Evers, da Trendwatching.
A mesma lógica
impulsiona a abertura de empreendimentos focados em nichos específicos, sem
mercado suficiente na vizinhança, mas com bom número de consumidores. As empreendedoras
Patrícia Andrade Helú, 22, e Patrícia Lens Cesar, 26, ilustram bem essa
habilidade. No ano passado, elas inauguraram um site para vender roupas feitas
para ficar em casa. Com o sucesso da operação, acabaram abrindo uma loja
física, mas a internet ainda é responsável por quase metade das vendas.
Preocupação com a sustentabilidade
As duas Patrícias e
o estudante Bruno mencionados anteriormente têm uma outra preocupação comum: o
meio ambiente. Ele planeja fabricar guitarras de madeira reciclada e cordas
revestidas a pet, entre outras especificações verdes. Elas querem lançar uma
coleção 100% sustentável, com corantes naturais e material
orgânico.